Vestia um casaco desses com pêlo, e trazia na mão um saco de plástico, com o que parecia ser pão.
Sentou-se ao meu lado no eléctrico 28, resmungava sozinha.
Perante o meu olhar diz-me logo,- não pense que sou maluca, não sou, mas estou furiosa.
Avaliei o rosto dela, bonita mesmo com algumas rugas, olhar cheio de vida, não tinha mais de 60 anos, e respondo, – não pensei nada.
E diz ela com desembaraço, – olha-me esta a fazer-me de parva, eu sei bem o que esse olhar quis dizer, não me venha com histórias.
Histórias lembrei eu, uma que deve ser boa, perguntei, – e qual é a sua história?
Olhou-me com um olhar ainda mais “furioso” não me atrevo a escrever maluco, e responde:
– Meta-se na sua vida “mazé” olha agora, já não se pode ir no eléctrico descansada, só me sai malucas e ladrões.
Levantou-se e sentou-se na outra ponta do eléctrico.
Eu fiquei ali, com cara de maluca, ela saiu duas paragens depois, a refilar, sozinha, tal como entrou.