Numa mesa afastada no café, parecia alheio a tudo ao redor.
Pedi licença, queria apenas beber um café, sorriu-me, dentes amarelos rosto enrugado.
Sente-se menina, eu até gosto de ter companhia.
Antes de saborear o café, atirei para o ar:
– O que faz o senhor aqui sozinho?
Olhou para mim, voltou a sorrir, suspira e diz:
– Gosto de vir a este café, vim durante 40 anos, mais a minha Amélia.
Perdeu-se em pensamentos novamente, eu insisto:
– Que aconteceu?
Olhou-me, sem sorrir agora e diz:
– Deixou-me, depois de tanto ano, embirrou que queria recuperar a vida que perdeu comigo.
Fiquei sem palavras, só o olhei com cara de parva provavelmente, continuou:
-Sim, agora depois de velha é que é gaiteira, em nova nunca se arrumou, agora parece uma árvore de Natal.
Mas eu continuo a vidinha de sempre, ele vai vir cá menina, acredite.
Acabei o café, despedi-me e saí, e acreditei.