Novamente no meu jardim, meu e de muitas centenas que diariamente o frequentam, uma enciclopédia de vida existe neste jardim, como deve ser em tantos outros por esse mundo fora.
Uma mãe sentada no banco, abana suavemente o carrinho de bebé, um casal namorisca num outro banco, umas crianças tentam apanhar os pombos que depenicam no chão e no mais afastado um senhor já idoso com um cigarro numa mão e a outra no queixo, olha para lado nenhum, olhar fixo no tempo, olhar que está cheio de recordações e saudades, é o escolhido.
Sento-me e digo, – não o quero incomodar, mas parece-me triste.
Olha para mim desconfiado e responde:
– Estou cá com os meus pensamentos.
– Em que pensa?
– Olhe penso nas injustiças da vida, na minha Maria que me deixou só ao fim de tantos anos, que ma levaram malvadas.
Surpreendida por ter resposta e tão completa atrevo-me a dizer:
– Levaram? quem?
– As malditas doenças, primeiro foi os diabetes, depois a cegueira a seguir um ataque cardíaco e foi-se.
Consternada disse que lamentava. Ele responde um sussurro, que entendi como obrigada e fica outra vez a olhar para lado nenhum.
Levanto-me e ele olha-me, como se me visse pela primeira vez e diz:
– Dou-lhe um conselho, viva, viva tudo e aproveite.
Voltou a baixar a cabeça e ficou perdido novamente nos pensamentos.
Fui embora, fui viver.