Hoje tenho o prazer de ter a Just_Smile, com um texto muito bom, para refletir e pensar realmente como as nossas crianças cada vez mais estão automatizadas.
Já devem conhecer o blog dela, fala de tudo um pouco, livros, cinema, fotografia, comes e bebes, opiniões, esta mulher não pára, vale a pena ir espreitando. Obrigada Just, pela simpatia e pelo excelente texto de reflexão.
“Quando era pequenina gostava da terra, do campo, das flores e do rio. Brincava com bonecas, carrinhos e às casinhas, inventando ingredientes com aquilo que me vinha à mão do campo. Uma folha era o bife, o milho o arroz e aquelas ervas daninhas que ninguém queria ver eram a salada. Desenhava a giz no chão uma ‘macaca’ e mesmo sozinha atirava a pedra e saltava de uma casa para a outra coxeando e tentando manter o equilíbrio.
O meu avô ensinava-me a distinguir os pássaros e ao seu lado estragava aquilo que ele plantava com a minha inocência de criança. Aprendi a nadar no rio, a dez minutos a pé de minha casa, escapando pelos campos de milho para me meter com os meus irmãos e primos numa água gelada onde surgiam cobras que me faziam fugir da água.
Cresci com um grupo de adolescentes, entre primos e irmãos, que apesar de se fartarem de ter uma criança atrás de si me ensinaram muita coisa. Fui uma criança feliz, nem o contrário me passa pela cabeça.
Hoje não vejo crianças no campo. Não vejo crianças no monte. Apenas as vejo do percurso da escola para casa, nada mais. Parecem estar presas numa torre onde não há sol nem natureza. Parecem-me não saber brincar, não terem o conceito de brincar.
A infância transformou-se nos últimos anos. As crianças crescem no meio das novas tecnologias e esquecem-se de ser verdadeiramente crianças. Talvez não sejam elas, afinal elas são reflexo dos nossos actos, dos nossos ensinamentos e valores. Então que valores lhes andamos a transmitir?
Ser criança não é ter mil e um brinquedos e não os saber usar. Ser criança não é passar dias entre computadores, tablets, televisão e outros afins. Ser criança não é só fazer os trabalhos de casa e ir para a música, para a natação, para o inglês, ou todas as outras actividades a que os pais recorrem para transformarem os seus filhos em seres perfeitos, ou para os prepararem para um melhor futuro.
Ser criança é ter imaginação. É criar mundos e histórias nas suas mentes quando brincam. É ouvir uma história e ser capaz de pintar a mesma numa folha em branco. É correr, é saltar, sem existir uma competição constante contra alguém. Ser criança é sorrir, é fazer asneiras, é sujar a roupa e esmorrar os joelhos. Ser criança é apanhar sol, meter aquelas mãos sujas de erva na boca e ainda assim continuar a brincar. Ser criança é aprender com aquilo que nos rodeia. É também ver desenhos animados, cantar músicas e ainda jogar no computador, mas principalmente dar asas à imaginação.
Vamos ensinar as crianças a serem crianças?”