Era cedo quando acordou, foi até à janela e estava um dia lindo.
Passou a manhã no computador, trabalhava em casa, ainda não era meio dia quando o telefone tocou.
Ao desligar soluçava, a notícia que temia há três meses veio de forma fria, profissional, sem emoção.
O que fazer? lembrou-se dos irmãos, eram cinco, tinha de lhes telefonar, mas agora não, agora chorava, a dor e revolta.
A maldita doença que entrou pela casa dentro sem pedir licença, sem dó, sem piedade.
A primeira consulta, o diagnóstico e a dor que causou a todos, a realidade era dura.
As idas constantes ao hospital, a operação que era de alto risco, o coração não colaborava, as lágrimas de quem não queria partir mas sabia que ia.
Os tratamentos que doía na alma, as forças que iam lentamente, até à recusa de continuar, o deixem-me morrer, deixem-me descansar dito em tom de desespero.
Por egoísmo, não queriam que fosse. Mas foi, era só mais uma para as estatísticas, mas era a “uma” da vida de alguns.
Pegou no telefone, deu a notícia aos irmãos, em pouco tempo estavam todos reunidos na casa que era a dela/deles.
Estavam todos juntos, como ela sempre queria, todos na mesma mesa, a comer e beber, a rir, pediram desculpa, não riram, não comeram ou beberam, nesse dia queriam chorar apenas.
Disseram até já, sempre juntos.